20060115

O fazedor de sanduíches

Ao Gui e ao Rui Catalão. (E juro que nunca mais escrevo nada do género)

Há uma arte na tarefa de fazer sanduíches à qual poucos terão alguma vez o tempo necessário para a explorar em profundidade.
Ao iniciar conversa com um fazedor de sanduíches comum (se é que o detentor de tal profissão pode alguma vez ser comum) ele rapidamente lhe dirá duas coisas essenciais. A primeira é que o termo "fazedor de sanduíche" é extremamente pejorativo. Seria basicamente o equivalente a chamar a um bombeiro "apagador de fogos", a um professor "transmissor de conhecimentos dúbios" ou a um advogado "inventor de desculpas profissional".
O termo correcto que dignifica a profissão será então sanduicheiro, termo que passaremos a tomar como certo até prova empírica do contrário. A segunda pérola de sabedoria que ele transmitirá será que a sua profissão lhe dá variadas e profundas oportunidades de satisfação pessoal: a escolha do pão certo, por exemplo.

O sanduicheiro tradicional passará então vários meses de reflexão e consultação com o padeiro (e não "fazedor de pão", argumentaria o sanduicheiro) de modo a criar o pão com a consistência exacta de modo a ser denso o suficiente para ser cortado em fatias finas, embora continuando a ter uma consistencia leve e fresca e mantendo o sabor ligeiramente adocicado que tanto melhora a qualidade da sanduíche média.
Há também a geometria da fatia a ser cortada a ter em consideração. A relação precisa entre a altura e largura da fatia e também a sua espessura em muito contribui para dar à sanduíche uma sensação de volume e suculência- neste ponto também, a leveza é uma virtude, mas também o são a firmeza, generosidade e a promessa de riqueza de sabor que são os pilares de uma experiência sanduística verdadeiramente intensa.

As ferramentas certas são, obviamente, cruciais. E durante os muitos dias em que o sanduicheiro não estava em conversações com o padeiro á beira do seu forno, lá estava ele testando com o fazedor de facas (neste caso nem a obstinação do sanduicheiro comum o leva a arranjar um nome melhor, dado que faqueiro é o nome de um utensílio de cozinha) o peso e precisão das facas, testando-as e melhorando-as. Firmeza, força, comprimento, resistência, flexibilidade e o quão o gume deve ser afiado eram assuntos debatidos incansavelmente entre os dois. Teorias eram lançadas, testadas e refeitas de modo a alcançar a faca ideal.
Na verdade três facas são requeridas para a profissão. A primeira é a faca de cortar o pão: uma lâmina firme, autoritária que possa impôr a sua vontade com firmeza no pão. A segunda é a faca de barrar manteiga, uma faca pequena e flexivel e deslizante mas mesmo assim com uma certa firmeza de carácter. As primeiras facas deste género eram feitas demasiado flexiveis, mas agora uma combinação entre a flexibilidade e uma certa força interior tornou-se a mais perfeita para assegurar leveza no barrar.
A terceira e mais importante faca era, claro, a faca de cortar a carne e o queijo. Esta não era uma faca que meramente impunha a sua vontade no meio que cortava, como fazia a faca do pão. Esta tinha de trabalhar com o meio que cortava, tinha de ser guiada pela substância do que cortava de modo a obter a mais perfeita consistência e leveza das fatias que eram cortadas do bloco de matéria prima.

Assim, com um golpe de pulso, o sanduicheiro faria saltar a fatia de carne translúcida e acabada de cortar para cima da perfeitamente bem proporcionada fatia de baixo da sanduíche, adequá-la ao tamanho da sanduíche com quatro golpes de faca rápidos e com mais quatro movimentos dextros de pulso encaixar como num puzzle dentro da sanduíche, os restos de carne cortados. Com a mesma faca de carne o sanduicheiro repetiria então o mesmo processo com o queijo e os vegetais, passando então finalmente a sanduíche para o seu assistente que acrescentaria o condimento e poria finalmente a parte de cima da sanduíche nela.

A reacção de todos os que comem uma sanduíche preparada por tais mestres é sempre a mesma: A dentada, o arregalar dos olhos, o degustar e mastigar, seguidos da famosa frase.
"Esta sanduíche não está nada má!"

7 Comments:

At 3:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eh pah... Nao sei o q dizer sobre a minha revolta quanto à minha estupides em perder 3 minutos uteis da minha vida a ler o teu post! Quem te ouvir falar, até parece que percebes muito de sanduiches.... =P

beijinhoo *

 
At 6:12 da tarde, Blogger Rui Catalão said...

1º porquê eu?
2º estás sob algum tipo de medicação?
3º porque não chamar "artesão do metal cortador" ao "fazedor de facas"?
4º tens vida?
5º caso tenhas, porque a ocupas desta forma?
6º o que é que te fez recordar esta ilustre peripécia?
7º estou quase a chegar ao 10º ponto
8º só faltam mais 2
9º um...
10º és realmente estúpido!

(agora faço aquela cara realmente estranha que tu exibes ao reagir a uma piada sem piada)

DIE WHORE!

 
At 6:13 da tarde, Blogger Cynath said...

Artesão do metal cortador é uma ideia interessante... Vou ter de pensar nisso... =P

 
At 8:01 da tarde, Blogger T. said...

original no míninmo!...=D

 
At 9:29 da tarde, Anonymous Anónimo said...

l0ol..n sei o k dizer..axo k so posso dizer k andas com tempo livre a mais..l0ol!bjx**

 
At 6:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O melhor texto que li em algum tempo. Original, divertido, interessante: Bom trabalho! Fique com Bob o/

 
At 10:42 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pelo menos da os créditos ao verdadeiro autor. Na moral. E aos leitores busquem por Douglas Adams antes de elogiá-lo.

 

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