O fazedor de sanduíches
Ao Gui e ao Rui Catalão. (E juro que nunca mais escrevo nada do género)
Há uma arte na tarefa de fazer sanduíches à qual poucos terão alguma vez o tempo necessário para a explorar em profundidade.
Ao iniciar conversa com um fazedor de sanduíches comum (se é que o detentor de tal profissão pode alguma vez ser comum) ele rapidamente lhe dirá duas coisas essenciais. A primeira é que o termo "fazedor de sanduíche" é extremamente pejorativo. Seria basicamente o equivalente a chamar a um bombeiro "apagador de fogos", a um professor "transmissor de conhecimentos dúbios" ou a um advogado "inventor de desculpas profissional".
O termo correcto que dignifica a profissão será então sanduicheiro, termo que passaremos a tomar como certo até prova empírica do contrário. A segunda pérola de sabedoria que ele transmitirá será que a sua profissão lhe dá variadas e profundas oportunidades de satisfação pessoal: a escolha do pão certo, por exemplo.
O sanduicheiro tradicional passará então vários meses de reflexão e consultação com o padeiro (e não "fazedor de pão", argumentaria o sanduicheiro) de modo a criar o pão com a consistência exacta de modo a ser denso o suficiente para ser cortado em fatias finas, embora continuando a ter uma consistencia leve e fresca e mantendo o sabor ligeiramente adocicado que tanto melhora a qualidade da sanduíche média.
Há também a geometria da fatia a ser cortada a ter em consideração. A relação precisa entre a altura e largura da fatia e também a sua espessura em muito contribui para dar à sanduíche uma sensação de volume e suculência- neste ponto também, a leveza é uma virtude, mas também o são a firmeza, generosidade e a promessa de riqueza de sabor que são os pilares de uma experiência sanduística verdadeiramente intensa.
As ferramentas certas são, obviamente, cruciais. E durante os muitos dias em que o sanduicheiro não estava em conversações com o padeiro á beira do seu forno, lá estava ele testando com o fazedor de facas (neste caso nem a obstinação do sanduicheiro comum o leva a arranjar um nome melhor, dado que faqueiro é o nome de um utensílio de cozinha) o peso e precisão das facas, testando-as e melhorando-as. Firmeza, força, comprimento, resistência, flexibilidade e o quão o gume deve ser afiado eram assuntos debatidos incansavelmente entre os dois. Teorias eram lançadas, testadas e refeitas de modo a alcançar a faca ideal.
Na verdade três facas são requeridas para a profissão. A primeira é a faca de cortar o pão: uma lâmina firme, autoritária que possa impôr a sua vontade com firmeza no pão. A segunda é a faca de barrar manteiga, uma faca pequena e flexivel e deslizante mas mesmo assim com uma certa firmeza de carácter. As primeiras facas deste género eram feitas demasiado flexiveis, mas agora uma combinação entre a flexibilidade e uma certa força interior tornou-se a mais perfeita para assegurar leveza no barrar.
A terceira e mais importante faca era, claro, a faca de cortar a carne e o queijo. Esta não era uma faca que meramente impunha a sua vontade no meio que cortava, como fazia a faca do pão. Esta tinha de trabalhar com o meio que cortava, tinha de ser guiada pela substância do que cortava de modo a obter a mais perfeita consistência e leveza das fatias que eram cortadas do bloco de matéria prima.
Assim, com um golpe de pulso, o sanduicheiro faria saltar a fatia de carne translúcida e acabada de cortar para cima da perfeitamente bem proporcionada fatia de baixo da sanduíche, adequá-la ao tamanho da sanduíche com quatro golpes de faca rápidos e com mais quatro movimentos dextros de pulso encaixar como num puzzle dentro da sanduíche, os restos de carne cortados. Com a mesma faca de carne o sanduicheiro repetiria então o mesmo processo com o queijo e os vegetais, passando então finalmente a sanduíche para o seu assistente que acrescentaria o condimento e poria finalmente a parte de cima da sanduíche nela.
A reacção de todos os que comem uma sanduíche preparada por tais mestres é sempre a mesma: A dentada, o arregalar dos olhos, o degustar e mastigar, seguidos da famosa frase.
"Esta sanduíche não está nada má!"
7 Comments:
Eh pah... Nao sei o q dizer sobre a minha revolta quanto à minha estupides em perder 3 minutos uteis da minha vida a ler o teu post! Quem te ouvir falar, até parece que percebes muito de sanduiches.... =P
beijinhoo *
1º porquê eu?
2º estás sob algum tipo de medicação?
3º porque não chamar "artesão do metal cortador" ao "fazedor de facas"?
4º tens vida?
5º caso tenhas, porque a ocupas desta forma?
6º o que é que te fez recordar esta ilustre peripécia?
7º estou quase a chegar ao 10º ponto
8º só faltam mais 2
9º um...
10º és realmente estúpido!
(agora faço aquela cara realmente estranha que tu exibes ao reagir a uma piada sem piada)
DIE WHORE!
Artesão do metal cortador é uma ideia interessante... Vou ter de pensar nisso... =P
original no míninmo!...=D
l0ol..n sei o k dizer..axo k so posso dizer k andas com tempo livre a mais..l0ol!bjx**
O melhor texto que li em algum tempo. Original, divertido, interessante: Bom trabalho! Fique com Bob o/
Pelo menos da os créditos ao verdadeiro autor. Na moral. E aos leitores busquem por Douglas Adams antes de elogiá-lo.
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